sábado, 12 de maio de 2012

Trecho da matéria da revista Rolling Stone Brasil sobre Tatá Werneck

Uma menina criada no porão, gatos de rua, retiro espiritual, alucinações mil: uma viagem pelo universo colorido de Tatá Werneck
Em certo final de tarde de março, em uma praça movimentada de São Paulo, alguns skatistas trocam impressões sobre suas manobras; uma mulher passeia com um golden retriever; e Tatá Werneck grita “Curitiba, Curitiba” enquanto cavalga o Chewbacca.

A atriz – ela não se considera humorista – está vestindo farrapos e tem os dentes pintados de preto: Tatá participa de uma cena do programa Comédia MTV ao Vivo, em que interpreta Alex, ajudante de um mendigo (Paulinho Serra) fissurado no Jô Soares. Nessa gravação, eles acreditam que conseguiram entrevistar o Chewbacca, a mítica criatura da série Star Wars. Dentro da gigantesca fantasia está um produtor da emissora. Mas parece que Tatá Werneck não sabe disso. A altura limitada (1,52m) e o corpinho miúdo fazem com que ela grude no corpo do bicho feito uma pulga, como se assim fosse possível viajar por outras galáxias e conhecer o Han Solo. A boca entorta e desentorta e o rosto em transe lembra uma argila úmida, que pode ser moldada em qualquer careta. Naquele instante, na mente de Tatá Werneck, ela realmente é uma mendiga alucinada, o Chewbacca existe para valer e o mundo não passa de uma sucessão de eventos absurdos.

Desde sempre, Talita Werneck Arguelhes, 28 anos, carioca da Barra da Tijuca, enxerga a realidade com olhos próprios. Há três anos na MTV, atingiu o sucesso participando de dois programas: o extinto Quinta Categoria e o programa de esquetes Comédia MTV. Já fez todo tipo de papel que a profissão exige, sendo homem, mulher, bicho ou objetos não identificados. Suas duas criaturas mais famosas – Fernandona e Roxanne – têm em comum o olhar ingênuo, a capacidade de acreditar em situações surreais e o discurso embolado. No cotidiano, Tatá também observa o mundo de um jeito engraçado. “Misturo um pouco ficção com realidade, sim”, ela concorda. “Eu sei o que é realidade e o que não é. Mas é que a minha realidade... Xiii!”



Em seguida, demonstra que, assim como algumas de suas personas fictícias, ela própria também é especial. “Sabe como eu vejo o mundo? Sabe aquela bolinha? De vidro? Eu me sinto meio que olhando essa bola de vidro. O tempo todo eu tô assim: ‘Eu sou harmonia, eu sou harmonia’... Mas isso eu não vou falar porque vão me achar maluca. Mas já falei, né?” (Ela jura que não usa drogas, nunca fumou maconha e evita beber álcool).

Longe do mainstream, atuando em um meio predominantemente masculino e sem jogar com a bola da vez dos humoristas – o stand-up –, Tatá Werneck alcançou reconhecimento graças à fala rápida, ao humor nonsense e ao jeitão desnorteado de suas personagens. “Eu não faço stand-up. Meus amigos todos fazem e estão comprando apartamento e ganhando dinheiro. Eu não faço”, ela se posiciona. Tatá se segura na experiência que adquiriu nos palcos – cerca de 20 peças, entre elas clássicos, como Shakespeare e Eurípedes – para construir os hilários trejeitos e as piadas mais absurdas. Também se apega à liberdade proporcionada pela MTV, onde diz colocar no ar o que passa pela sua cabeça. Eleita pelos leitores de um grande portal da internet como “a melhor humorista do Brasil”, acumulando mais de meio milhão de seguidores no Twitter e sendo assediada por outras emissoras (“menos a Record”), ela acha que tudo ainda está no começo. “Espero chegar daqui a 20 anos e falar ‘Eu comecei na MTV’, e não ‘Meu auge foi na MTV’”, diz.

Mesmo amando teatro e jogos de improviso (ganhou prêmios com suas improvisações), Tatá sempre sonhou em fazer humor na TV – além da MTV, também participou das séries Os Buchas e Os Dilemas de Irene. “Mas não queria ir para o Zorra [Total, da Globo]”, confessa. “Nada contra o Zorra, quer dizer, tenho contra, sim. O formato não valoriza os atores foda que eles têm.” Em 2009, foi convidada para fazer o teste do Quinta Categoria. “Um ano antes, estava na casa do meu namorado, me ajoelhei e pedi: ‘Meu Deus, quero muito fazer esse programa’.” Hoje, financeiramente ela pode afirmar que conquistou alguns pontos: pode ser vista vendendo cadernos, apartamentos e refrigerante em esquetes na web. Frisando que é atriz que faz humor, ela cita Fernanda Torres como modelo profissional a ser seguido.

“Eu quero passar de fase”, ela parece falar sério, mas nem tanto. “Chegar aos 90 anos com todos os cogumelos, penas, salvando a princesa...”

Você continua lendo esta matéria na edição 68 da Rolling Stone Brasil, Maio/2012.

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